Havia um homem como outro homem qualquer, homem de negócios, desses que não é importante saber o nome, afinal são todos iguais. Este homem, que parecia com todos os outros já estava farto da vida cotidiana. Os homens de negócios, de ternos e bem vestidos não conhecem muitas coisas do mundo real, apenas do mundo que eles acreditam ser real. Conhecem apenas o que foram treinados a saber.
Certo dia, este homem que parecia todos os outros homens decidiu fazer algo para sanar o tédio que sentia, mas como? Ele não conhecia boas músicas, não sabia apreciar uma peça teatral, não gostava da subjetividade dos filmes nacionais, não era leitor de romances e muito menos de poesia. O homem comum era treinado para ser comum.
Então o homem comum começou a se lembrar dos bebuns que passavam por perto da empresa onde os outros homens comuns trabalhavam. Lembrou-se do mau cheiro primeiramente, mas depois da liberdade dos bebuns, e como ele precisava de uma saída, que tal a mesma saída dos bebuns? Era a única saída que ele conhecia. Homens comuns só tinham lazer nas mesmas coisas: Futebol às quartas e cerveja aos domingos. Ele já estava farto disso.
O homem comum esperou o primeiro bebum passar e decretou para si mesmo que iria segui-lo e saber aonde é que o maldito iria para ficar neste estado. O homem comum esperou por horas, justo nesse dia não passara nenhum bebum no horário de pico, até que apontou na esquina, primeiramente a anunciação do bebum, ele mesmo, um vira-latas caramelo. O homem comum ficou apreensivo, pois já percebera que o doguinho caramelo era o prelúdio do bebum.
Lá veio ele, o homem bebum. Bebum mas treinado, não tropeçava e nem caía, técnicas de tempos. Ser bebum não é para iniciantes. Precisa de esforço, dedicação e um fígado generoso e forte.
Vendo esta cena, lá foi o homem comum atrás do homem bebum. Quando o homem comum viu que era ali, no bar Vinte de Novembro, onde os bebuns se reuniam para se descolarem da realidade, decidiu entrar e pedir tudo que o bebum pedisse. O homem comum achou que poderia com o homem bebum, e foi seguindo.
- Uma pitu com maracujá, chefe...
- Pois eu também quero uma!
- Uma dose de zangão com 51, meu consagrado!
- Pois eu também quero uma...
O bebum, espertamente, percebeu o que estava por vir. O que o homem comum não esperava é que o bebum fosse um ariano muito competitivo.
- Um fogo paulista, mas com aquela maldade de 88, amigo!
- Eu também quero!
O bebum não jogava limpo, tampouco pegava leve.
- Uma dose de branquinha, daquela do alambique do seu tio!
- Eu que*gup*ro uma também
- Um Rabo de Galo pra encerrar, mas eu quero com gengibre dormido na cana, só pra ir dormir aquecido...
-Ewn quierrro tumbéim...
Depois dessa o bebum comprou três sardinhas, comeu duas, foi embora, chamando seu cãozinho caramelo sem nome e dando a terceira sardinha para ele. Não se sabe onde foi, mas foi bem ido. Provavelmente para outro bar...
Quando o homem comum viu que o bebum foi embora, também achou que já era sua hora de ir. Levantou-se. Levantou-se e sentou rapidamente senão cairia. O homem comum precisava ir para casa, outro dia viria, mas como ir nesse estado? Bom, como ia não importava, só se sabia que ele precisava ir, e foi. Saiu do bar cambaleando, trocando as pernas, não se sabia mais o que era esquerda ou direita ou frente ou trás. Os bêbados as vezes são abençoados, então o homem foi seguindo para sua casa sem saber como, mas achava que só poderia ser através de alguma intervenção divina, que foi quando Ele viu Nossa senhora de todos os bêbados em sua frente, numa espécie de procissão, e foi seguindo, até que a Virgem o largou no portão de casa, literalmente o largou. O homem comum-bebum caiu em frente sua casa enquanto todas as coisas iam girando, girando, girando, girando, girando, girando...