João da Silva Gostoso, ou mais popularmente conhecido como João Gostoso, nascido e criado no Morro da Babilônia, desde a sua infância foi uma criança apaixonada pela vida, dançava, cantava, corria, pulava… João era feliz, mas a vida que não gostava muito de João. Desde sempre ela se fez muito de difícil para o rapaz, nunca foi legal com o jovem menino, mas ele era tão apaixonado por ela que não se importava com os pesares que ela trazia. Quando estava em momentos mais alegres, a vida lhe trazia fome, mas isso não era um problema, entrava no primeiro supermercado que encontrasse, escondia um pacote de biscoitos no bolso e saía sorrateiramente. João não se orgulhava disso, mas era a única saída do moleque. Quando estava sendo feliz, a vida lhe trazia sede, mas recorria à primeira mangueira que via e saciava-se. João sempre agradeceu mais do que pediu, e foi crescendo apaixonado pela vida.
Na juventude, o agora rapaz João nunca deu bobeira, sempre trabalhou como podia, não corria da raia, vendia água, ia para o sinal com as suas balas, a noite trabalhava de garçom em bares, tudo isso na intenção de impressionar a vida que ele tanto amava, para ver se assim ela dava uma chance para o rapaz, para ser se ela poderia ser fácil com ele, afinal, o rapaz se esforçava demais, mas a vida não dava trégua, uma dama que nunca abaixava a guarda e tampouco dava mole. Apesar dos pesares, João era apaixonado por ela.
Ao chegar à vida adulta, ainda apaixonado pela vida, João começou a flertar com outra dama, esta ficava sempre ao seu derredor, quando a vida o esnobava, ela estava sempre por perto a fim de ampará-lo, mas como o moço sempre foi cego de paixão pela vida, nunca havia reparado tal coisa. Esta dama era a morte. Cada vez mais a dama morte, alta, esguia e faceira, com seus olhos seduzentes e convidativos se aproximava de João, enquanto a vida o jogava de canto. João então começou a se ter grande interesse por essa bela dama que se apresentava, e que, na verdade, sempre esteve perto dele, às vezes esbarrava e ele que não enxergava. A vida o distraía, mas agora não mais.
João começou a se interessar pela tal dama seduzente, e sempre que ia relaxar tomando a sua cachacinha ela sentava ao seu lado. Em um desses encontros, João trocou uma ideia com essa dama, que mostrou a ele tudo de ruim que a Vida tinha dado ao rapaz, e de como aquela moça metida, seletiva e esnobe tinha destratado o coitado, a Morte o fez lembrar de todos os apertos e mostrou que sempre esteve ao lado do rapaz, em todas as circunstâncias, sempre que fora esnobado pela vida, a morte sorria para ele. Foi então que João desapaixonou de vez dessa senhora metida, esnobe que não tinha olhos para ele. João tentou mas não conseguiu.
O rapaz decidiu se entregar à dama que o deu atenção, e marcou um grande casório. Local: Bar vinte de novembro. Nesta ocasião, fez tudo como manda o figurino, João bebeu, Cantou, Dançou, e depois se atirou nos braços de sua nova amada para um noite de núpcias que não teria fim, ali mesmo, na lagoa Rodrigo de Freitas, e foi feliz.