EXERCÍCIO III - POEMA IMERSIVO

           Neste terceiro exercício organizamos uma pequena instalação artística partindo da ideia de um poema imersivo, que trabalhasse o espaço com áudio, projeções etc. Organizamos três projeções bem diferentes que trabalhavam com conceitos de circularidade do tempo e labirintos, partindo do seguinte poema:


nos jardins

sete e quinze
ouça o barulho dos ponteiros
confirme se são ponteiros
é um tique taque ou o gotejar da pia
ou o bater do coração do monstro

nove e meia
tem no mapa os caminhos
as rotas certas e as rotas
a parede central está coberta de samambaias
que cobrem também a saída

onze e treze
o relógio mostra apenas os números ímpares
encaro a face da verdade -
as veredas da verdade -
que visco todo é esse
pelo chão do labirinto

doze e doze
as copas encobrem o céu
confundindo a noite e o dia
a luz da lua invade as folhas
e cria sombras de animais
aquilo ali é um coelho -
um aviso -
alice, não caia no buraco
que é fundo, e acaba-se o mundo

doze e onze
o segredo que não procurava
está nas grutas
onde moram todas as sombras

doze e cinco
é quando percebe -
o tique taque são de dedos impacientes
e os ponteiros, tigres de papel invertidos
a saliva escorre pelas presas e pinga
na escuridão

doze em ponto
ouve mais alguma coisa?


    As projeções, então, tiveram o objetivo de criar um ambiente imersivo que simulava os jardins, o limbo, o caminho até o Inferno. Esta imagem é reiterada pela projeção de uma criatura entrando na sala repetidas vezes, o fantasma dos jardins, acompanhada de um áudio de uma estática da TV e uma outra projeção de uma apresentação de butô de Kazuo Ohno. Em uma outra tela foi projetado o filme "The Garden of Earthly Delights", de Stan Brakhage.




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